Boston (EUA), 13 de agosto de 2025 – A introdução da zuranolona, primeiro antidepressivo oral aprovado pela FDA para depressão pós-parto (DPP), trouxe alívio rápido dos sintomas, mas segue gerando incertezas entre puérperas que desejam manter a amamentação.
O medicamento é um esteroide neuroativo que atua como modulador alostérico positivo dos receptores GABA-A. A aprovação nos Estados Unidos abrange mulheres adultas com DPP, condição que atinge cerca de 1 em cada 8 mães.
Apesar dos benefícios, a bula indica suspender o aleitamento durante o tratamento, geralmente realizado por 14 dias. Na prática clínica, essa recomendação faz muitas mulheres optarem por inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), que já possuem amplo histórico de segurança na lactação.
Em estudo de fase 1 aberto, 15 mulheres lactantes saudáveis receberam 30 mg diários por cinco dias. A dose relativa infantil (RID) média foi de 0,357 % – taxa muito abaixo do limite de 10 % considerado seguro para amamentação. Estimativas para 50 mg apontaram RID de 0,984 %. Amostras de leite coletadas entre quatro e seis dias após a última dose não apresentaram níveis quantificáveis do medicamento.
As participantes tiveram redução média de 8,3 % no volume produzido. Os autores atribuem a variação a fatores como menor demanda do bebê ou estresse materno, e não à ação da zuranolona.
Imagem: womensmentalhealth.org
Não há estudos publicados que avaliem de forma sistemática os efeitos do fármaco em lactentes ou na produção de leite a longo prazo. Em experiência de consultório com 25 bebês expostos via amamentação, pesquisadores liderados por Price relataram boa tolerabilidade, sem sedação ou outros eventos adversos.
Ainda que os dados farmacocinéticos mostrem baixa exposição infantil, especialistas do MGH Center for Women’s Mental Health recomendam cautela. Recém-nascidos e prematuros têm metabolismo imaturo e maior vulnerabilidade neurológica. Caso o uso da zuranolona seja indispensável, a orientação atual é manter a extração do leite para preservar a produção e descartar o leite durante todo o ciclo de 14 dias.
Referências: Deligiannidis et al., Journal of Clinical Psychopharmacology, jul-ago 2024; Price & Price, Journal of Clinical Psychiatry, 2 jul 2025.