Zuranolona mostra sinais de eficácia contra depressão pós-parto em mulheres com transtorno bipolar, mas estudos ainda são escassos

Bella BetinhaSaúde Mental6 dias atrás20 pontos de vista

Boston (29 de julho de 2025) – Mulheres com histórico de transtorno bipolar que sofrem de depressão pós-parto seguem sem um protocolo claro de tratamento, mas a zuranolona, aprovada pela FDA para depressão pós-parto em 2023, começa a chamar atenção como possível opção emergencial.

O que é a zuranolona

A substância, comercializada como Zurzuvae, é um esteroide neuroativo em cápsulas que modula positivamente o receptor GABA-A, principal sistema inibitório do cérebro. Diferente dos antidepressivos tradicionais, voltados às vias de serotonina ou noradrenalina e de ação lenta, a zuranolona costuma reduzir sintomas depressivos em poucos dias.

Aprovada, mas com restrições

Nos estudos iniciais que levaram à aprovação para depressão pós-parto, mulheres com transtorno bipolar foram excluídas para evitar risco de mania induzida por antidepressivos. Esse grupo, no entanto, apresenta quadros pós-parto mais graves e resistentes, gerando interesse sobre o uso off-label do medicamento.

Evidências em adultos não pós-parto

Um ensaio multicêntrico aberto de fase 2, apresentado no US Psychiatric and Mental Health Congress 2022, avaliou 35 adultos (18-65 anos) com transtorno bipolar I ou II em episódio depressivo maior:

  • Dosagem: 30 mg diários por duas semanas; acompanhamento até o Dia 42.
  • 71 % concluíram o ciclo completo.
  • Efeitos colaterais mais comuns (≥5 %): sonolência, cefaleia, diarreia e sedação.
  • Não houve casos de mania ou eventos graves; dois participantes relataram hipomania.
  • Melhora média no Dia 15: −15,5 pontos no MADRS e −11,4 no HAMD-17, mantida até o Dia 42.
  • Taxa de resposta (≥50 % de redução no HAMD-17): 45 % no Dia 15, 50 % no Dia 42.

Relatos clínicos em mães com bipolaridade

Embora anedóticos, dois casos publicados ajudam a ilustrar o cenário:

Caso 1 – Mulher de 30 anos, transtorno bipolar II controlado com lamotrigina, sertralina e risperidona em baixa dose, apresentou depressão pós-parto e sintomas obsessivos no terceiro trimestre. Aos 10 meses pós-parto, iniciou 50 mg de zuranolona enquanto amamentava. Em 14 dias, relatou melhora acentuada sem sedação materna ou no bebê e, nos oito meses seguintes, pôde suspender o risperidona.

Zuranolona mostra sinais de eficácia contra depressão pós-parto em mulheres com transtorno bipolar, mas estudos ainda são escassos - Imagem do artigo original

Imagem: womensmentalhealth.org

Caso 2 – Paciente de 38 anos, transtorno bipolar I e histórico de psicose, desenvolveu depressão pós-parto grave com ideação suicida após aborto espontâneo. Com 30 mg de zuranolona associada a olanzapina e fluoxetina, apresentou resolução dos sintomas em 24 horas e manteve estabilidade por mais de um ano.

Situação atual e recomendações

Especialistas do MGH Center for Women’s Mental Health ressaltam que, apesar dos indícios positivos, faltam ensaios controlados em mulheres no pós-parto com bipolaridade. O psiquiatra Michael Price recomenda garantir estabilização prévia com um regulador de humor (lítio, lamotrigina ou antipsicóticos) antes de adicionar a zuranolona.

No momento, o uso do fármaco é oficialmente indicado apenas para depressão pós-parto sem histórico bipolar. Pesquisas adicionais serão necessárias para confirmar segurança e eficácia nesse público específico.

Referências: Lafer BM et al., pôster apresentado no US Psychiatric and Mental Health Congress 2022; Price MZ e Price RL, J Clin Psychiatry, 2 de julho de 2025.

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